Para tudo tem remédio, menos para a morte, já diziam nossos avós. Praticamente toda dor, sintoma, indisposição ou mal-estar podem ser combatidos com medicamentos. E é aí que mora o perigo. A eficiência da ciência aliada à facilidade de acesso aos remédios e à informação (na Internet, acha-se tudo sobre curas de doenças) levam muitas pessoas a fazer uso inadequado de remédios.
A tarja vermelha em que se lê "vendido sob prescrição médica" parece ser meramente decorativa. E mesmo os medicamentos que dispensam a advertência, dizem especialistas, podem ser perigosos. Tudo depende das condições do paciente ou da interação com outros remédios, alimentos ou bebidas.
_ Tenho em casa a minha farmacinha. Não tenho medo de sofrer efeito colateral, pois só faço uso de medicamentos que conheço e sei que não dão reação _ defende a manicure de Santa Maria Angélica Farias Miler.
Angélica conta que, desde criança, quando morava com os avós, tinha curiosidade em saber sobre os remédios que eles tomavam e os seus efeitos. Costumava ler as bulas para saber mais e, depois de trabalhar em uma farmácia, passou a dar indicações para amigos e familiares para tratar males mais comuns.
Remédios com nome diferentes, mas o mesmo princípio ativo sobrecarregam o organismo
O caso de Angélica não é incomum. A maioria das pessoas sabe que a automedicação pode trazer riscos, mas acaba arriscando. Foi pensando nisso, que o Bem Viver! ouviu especialistas e traz as situações mais prejudiciais.
_ As pessoas costumam fazer uso de mais de um tipo de medicamento com nomes diferentes, mas com o mesmo princípio ativo. Isso pode causar um acúmulo de substâncias no organismo _ explica coordenadora do curso de Farmácia do Centro Universitário Franciscano (Unifra), Jane Beatriz Limberger.
Segundo Jane medicamentos com paracetamol, dipirona sódica e pomadas para assaduras, por exemplo, são vendidos sem receita e são administrados de forma descontrolada.
_ O uso excessivo de dipirona, por exemplo, pode causar a aplasia medular, uma doença que pode afetar o sistema imunológico e diminuir as defesas do organismo _ ressalta a professora e farmacêutica.
Idosos, crianças e pacientes com distúrbios psiquiátricos estão no grupo de risco
A pediatra Rosângela Lovato, que atende no PA do Patronato e no plantão da Unimed, aponta a automedicação como grave:
_ Ela pode mascarar o diagnóstico clínico do paciente, além de que a administração de um determinado medicamento em dose insuficiente ou em superdosagem acarretam efeitos nocivos à saúde. Pais que se automedicam influenciam seus filhos, e isso acaba se tornando um hábito familiar _ salienta Rosângela.
Jane alerta para outro fator de risco:
_ Não é difícil a pessoa se descuidar e acabar ultrapassando a dose diária permitida. Os efeitos colaterais nem sempre são imediatos e visíveis. Por vezes, podem aparecer depois.
A frequência no uso de algumas medicações aumenta os riscos de efeitos colaterais. O uso com um intervalo de tempo maior não anula os efeitos, apenas diminui riscos.
Rosângela considera os pacientes com distúrbios psiquiátricos o grupo de maior risco nos casos de automedicação, em função dos fortes efeitos de medicamentos antidepressivos, por exemplo. Crianças e idosos também são grupos de risco já que o organismo antes dos 12 anos e depois dos 65 tem maior dificuldade em eliminar os medicamentos.
INFORME-SE
Comprar os remédios que o médico manda e tomá-los nos horários corretos não é o suficiente para um bom tratamento. É importante que o paciente questione e entenda por que aquele remédio deve ser tomado em um determinado horário, quais as consequências de tomá-lo sozinho, em jejum, com outros remédios, após as refeições o"